sexta-feira, 24 de abril de 2009

Contos de Espionagem



Capítulo 4 - A Pergunta de Um Milhão de Dólares

O copo de bourbon com gelo em sua mão ajudava a aliviar a tensão do encontro recente. M o oferecera, retirado da garrafa prontamente guardada em seu minibar, atrás de sua nova mesa de estilo mais moderno - mais adequado ao tipo de mulher que ela representava e, ao mesmo, aparentando firmeza e durabilidade.

Acima de sua mesa, 4 telas de TV ostentavam vídeos de alta resolução mostrando imagens que ØØ7 só pudera imaginar ou deduzir dos poucos fatos concatenados em sua mente. Após o primeiro refrescante gole, todas as dúvidas sanadas sobre o que realmente ocorrera naquele dia apenas suscitavam mais perguntas ainda nem mesmo formuladas. Observou que Al-Haud permanecia com a tez sempre tranqüila e muito atento ao que M dizia, preenchendo as entrelinhas do que porventura não ficasse claro nas imagens.

" ... e então, neste momento, substituímos o sr. Faishad pelo seu dublê. Uma útil tática adotada pela CIA, não concorda, ØØ7 ? "

Com a pergunta, ßønd foi obrigado a sair do torpor de seus pensamentos e deixar de lado a preciosa sensação do álcool em sua boca.

" Muito útil, M. Imagino o que mais andamos copiando deles. "

" Espero que apenas os bons hábitos, meu caro amigo. " - Faishad Al-Haud sorriu para ele. Jåµë§ retribuiu apenas com outro sorriso e um aceno de cabeça. Voltou-se para M e continuou :

" Nunca antes um dublê havia morrido num atentado. Isso deve desacelerar o mercado de sósias de celebridades, eu acredito. " - parecia sentir o relaxamento causado pelas decorrentes doses educadamente sorvidas da bebida - " De qualquer forma, eu gostaria de saber porque não fui informado. Eu sabia que a ocasião merecia cuidados especiais, mas não a este ponto. "

" Esta informação está restrita apenas ao Primeiro Ministro, seus colaboradores, dois homens de confiança do sr. Faishad, a mim e a Srta. Moneypenny, e agora... a você, ØØ7. "

Jåµë§ ßønd considerou a resposta silenciosamente, pois o sigilo absoluto deste plano só poderia significar uma coisa : a história estava apenas começando. Então, após alguns segundos, perguntou :

" Então, agora posso saber o que está acontecendo ? "

" Naturalmente. Deixe-me abrir alguns arquivos. "

No bater de algumas teclas no console de M, as 4 gigantescas telas fundiram-se numa só imagem que a princípio exibia um mapa mundial e aos poucos foi se ampliando e mostrando a localização do Oriente Médio. Depois, ampliou-se de novo, revelando as fronteiras do Líbano. Mais algumas teclas adiante e a visão aérea da cidade de Beirute surgiu.

" Como bem sabe, recentemente a Rússia liberou uma encomenda para o Irã de uma quantidade indecente de mísseis de curto alcance mas de poder de fogo considerável. Esta negociação causou um certo rebuliço no cenário de armas internacional. "

" Até aí, nada de novo no front. " - comentou ØØ7 . Faishad não esboçou nenhuma reação a isto.

" ... de fato. Mas mesmo assim nos últimos anos a possibilidade de um confronto direto com forças terroristas no Oriente Médio tem se tornado cada vez maior, e este tipo de armamento em poder de partidos políticos guerrilheiros e com más intenções poderia dificultar a empreitada e aumentar consideravelmente o número de baixas entre nossos soldados. Algo que não podemos encorajar. "

" Entendo... e onde o sr. Faishad se encaixa nessa trama ? "

Faishad Al-Haud não estava disposto a apenas assistir o desenrolar dos eventos e decidiu acrescentar algumas palavras por si mesmo :

" Da maneira mais imprevisível possível, meu caro amigo... " - esse último complemento soando falsamente para ßønd - " ... recebendo um aviso de um velho contato no Mossad. "

Nada mais irônico a seus olhos agora. Um palestino proeminente com velhos amigos no serviço secreto israelense. Não impossível mas incrivelmente improvável, a menos que o agente estivesse sendo muito bem pago.

" Entendo seu olhar incrédulo, meu caro ØØ7, mas é verdade. Nosso povo cresce lado a lado em algumas comunidades. Nossas vidas podem se partir pela vontade de Allah, mas a amizade é um laço difícil de se partir. Nunca traímos nosso povo para preservá-la mas cedemos informações que possam ser úteis para ambos os lados. "

ßønd interessava-se cada vez mais por esta versão dos fatos imaginando o que mais poderia vir. Faishad continuou.

" ... sendo assim, quando uma ameaça importante veio aos seus ouvidos ele não hesitou em me avisar. E eu resolvi compartilhar com vocês o recado. "

" E por que todo o trabalho de vir até a Inglaterra ? Poderia ter usado o telefone. A tarifa de ligação internacional deve ser realmente exorbitante, pelo visto. "

" ØØ7, por favor... " - M foi sucinta.

" Está tudo bem, minha cara M. " - disse sorrindo pela admoestação verbal - " Quando avisei ao meu partido sobre o que está por vir, fui proibido de repassar os dados sob juramento de morte. Fiquei encurralado. A situação agravou-se ao lentamente descobrirem minha ligação com Israel. Minhas propostas de paz pareceram aos olhos de meus companheiros profundamente tendenciosas. No fim, a única saída seria pedir proteção a vocês em troca dos pormenores do aviso. "

" Aparentemente, nossos aliados não se incomodaram em nos avisar também. " - disse ØØ7, cortando momentaneamente. Parecia estranho o Mossad não intervir na questão.

" Ah, sei o que está pensando. Mas meu estimado amigo foi morto antes de poder confirmar os dados do ataque e o Mossad não pode se declarar a respeito do que ignoram. Estão investigando tudo silenciosamente, não querem causar alarde. "

" Um ataque ? É positivamente uma ação agressora ? "

" Sim, ØØ7. Por isto todo o cuidado com o transporte de Faishad. " - M acrescentou.

" Interessante. E qual a natureza do ataque ? E por que não pedir asilo aos americanos ? Eles adoram este tipo de tratado. Receberiam um palestino famoso carregado de informações de braços abertos... e, devo dizer, o recompensariam com bem mais virgens do que Allah. " - estas eram as perguntas que não queriam calar.

" Uma bomba atômica defeituosa roubada dos russos pelos rebeldes libaneses. Esta a resposta para sua primeira pergunta. " - M tomou o controle do diálogo neste momento.

Ele virou-se novamente para ela, sorvendo o último gole de bourbon em seu copo - " e a segunda ? "

" Porque o alvo é Londres, ØØ7 "

Fim do Capítulo 4.

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