quinta-feira, 16 de abril de 2009

Contos de Espionagem



Capítulo 3 - Depois do Funeral

A sala de interrogatório era cinza e pequena mas, diferente de outras, não continha janelas. Apenas uma abertura de ar. Uma mesa, uma cadeira e uma câmera de gravação no teto completavam a paisagem claustrofóbica. Sua localização era segredo mesmo para maior parte dos ocupantes da sede do SIS, localizado às margens do Tâmisa, com seu formato lembrando - ao menos de longe - uma pirâmide pré-colombiana e inspirando uma sensação de respeito e sobriedade no coração de Londres e onde muitas decisões sobre a política externa da Inglaterra foram formuladas..

Jåµë§ ßønd já estivera nela várias vezes a serviço em outros tempos. Então, estar do outro lado do tabuleiro poderia ser uma experiência inédita não fosse a urgência da situação. Já se passara 4 horas desde que Villiers, recentemente nomeado Chefe de Seção dos Duplos Ø, acompanhava em silêncio o interrogatório enquanto ele repetia sua história enfadonhamente para os investigadores. Quando finalmente resolveu se envolver diretamente, aproximou-se de ßønd.

" Conhecemos muito bem seu passado de insubordinação, ØØ7. Este é o único motivo pelo qual sua história faz algum sentido. " - sentenciou.

" Não tenho mais nada a dizer no momento. " - ßønd retrucou.

Villiers ponderou por um momento medindo suas próximas palavras. Poderia manter seu subordinado indefinidamente até que finalmente exaurido, alguma nova evidência surgisse. Entretanto, não o faria por motivos óbvios a este ponto.

" Tem razão, Comandante ßønd. Seu treinamento torna tudo isso produtivo. Vamos apenas assumir que esteja sendo bem preciso no seu depoimento. " - finalizou.

Fez um sinal para o guarda, que abriu a porta. Em instantes uma das muitas secretárias de Villiers adentrou, trazendo em suas mãos roupas que Jåµë§ reconheceu como suas, provenientes de seu apartamento.

" Se soubesse, teria pedido por gentileza para seus homens checarem meus e-mails também. " - soltou olhando de soslaio para a bonita morena que se retirou com um aceno parecendo não notá-lo.

" Queremos que esteja confortável ao se encontrar com M. " - disse apenas olhando a camisa suja de sangue que não era seu.

Depois de ser conduzido a um banheiro privativo, não podia deixar de pensar , enquanto se banhava, na probabilidade de um golpe tão perfeito dar certo. Refez mentalmente todo o roteiro que o assassino deveria percorrer, comparando com as decisões que ele mesmo tomaria, para se aproximar do enviado estrangeiro e sair sem ser notado quando apenas uma bomba teria feito o mesmo trabalho e chamado mais a atenção. E o fato do Chefe de Seção em pessoa acompanhar a investigação era muito suspeito. " Robinson era até esperado, mas Villiers ?" - considerou.

O corpo agora relaxado se expressava com pequenas dores musculares à pressão do toque da esponja. Terminou seu banho, enxugou-se e vestiu-se lentamente, conjeturando que ao menos os subordinados de Villiers tiveram o bom gosto de separar boas peças para ele. Normalmente Brioni era sua marca favorita, mas este terno cinza-escuro Tom Ford, presente de uma amiga muito antiga, estava entre seus mais estimados. Depois das cansativas e entediantes horas de interrogatório, sentia-se renovado ao ajeitar a gravata de seda azul, de tom muito sórbio, perante o espelho.

Um agente o esperava à saída do banheiro, conduzindo-o tranquilamente pelos andares e corredores que já conhecia como sua própria casa. As salas de reunião, a porta do elevador que levava ao laboratório de Q, que devia estar muito satisfeito por nenhum equipamento ter sido destruído, e finalmente a entrada principal, com o imenso selo do serviço secreto ao chão, indicando que a poucos metros dali chegariam ao escritório de M.

Na porta da ante-sala da chefe do SIS, o guarda o saldou e fez um maneirismo para que ele entrasse. " Obrigado pela ajuda, soldado. Eu sempre me perco nestes corredores. " - o guarda não sorriu, apenas se retirando discretamente.

" Sempre se perde, Jåµë§ ? " - a suave e distinta voz da Senhorita Moneypenny ecoou e o fez voltar sua atenção para dentro do gabinete - " Isso explica porque está sempre atrasado para as reuniões. "

" Sempre posso me guiar pelo seu perfume, Moneypenny. " - brincou e ao se aproximar da secretária particular de M, completou : " Channel nº5... não é muito clichê ? "

" Assim como Marilyn Monroe, é tudo o que uso ao dormir " - respondeu maliciosamente.

" Hm... tudo que eu levo é minha arma, Penny. "

Antes que a Srta. Moneypenny pudesse responder, o comunicador soou.

" Comandante, acredito que esta informação não esteja em sua ficha de serviço. Sugiro que deixe minha secretária voltar a assuntos menos importantes, como, por exemplo, trabalhar para mim. " - M disse rispidamente.

" Estou a caminho, M. "

Moneypenny conteve o embaraço tentando intimidá-lo : " Vá logo, Jåµë§. Um dia você vai chegar atrasado ao seu próprio enterro. "
" Espero mesmo nunca chegar a tempo deste evento, Penny. " - e sumiu portas a dentro.

Virou-se na direção da sala principal e fechou a porta atrás de si. Lá estava M, com sua aparência falsamente frágil e postura imponente que negava sua avançada idade, acompanhada de mais alguém.

Nada podia prepará-lo para o que veria neste momento e a surpresa o fez hesitar seus passos por um momento. M adiantou-se em apontar-lhe uma das duas cadeiras à frente de sua mesa. Ele se aproximou e sentou-se devagar observando a figura à sua esquerda na outra cadeira com um pequeno sorriso nos lábios e mãos estendidas para cumprimentá-lo.

" Acredito que já se conheçam " - M disse, sem nenhum sarcasmo que a ocasião mereceria.

" Sim, eu e o Comandante ßønd dividimos uma agradável manhã hoje. " - disse o homem chamado Faishad Al-Haud voltara dos mortos. O homem que ØØ7 não conseguira proteger.

Fim do Capítulo 3

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