segunda-feira, 11 de maio de 2009

Contos de Espionagem



Capítulo 6 - Um Conto de Duas Cidades

"Sabe, Jåµë§... por um momento pensei mesmo que fosse me executar..." - Sarah Bat-Seraph abria largos sorrisos ao lembra-lo da momentânea aliança forjada entre os serviços secretos de seus países. Estavam agora numa pequena cafeteria próxima às escadas rolantes do aeroporto, esperando seu contato.

"Se eu quisesse você morta, teria colocado uma bala na agulha da pistola." - a arrogância dele, poderia se dizer, rivalizava com dela.

"E se eu quisesse você morto, não o teria deixado com um cantil e uma faca ao norte de Tajrish, teria ?"

ßønd calou-se. Sabia que tudo fazia parte dos riscos da profissão. O que o incomodava mais não eram algumas horas escapando do calor e dos perigos do deserto, mas sim - ter sido deixado vivo e inteiro.

Os minutos se passaram entre goles café, que ele apreciava apesar de sua origem (sua preferência por chá) e conversas profissionais. Cruzavam seus olhos dezenas de passageiros indo e vindo de seus compromissos e passeios. Alguns nativos e outros estrangeiros. O toque do telefone público os deixou alerta novamente. Se tudo corria como o plano, seu contato avisava de sua chegada ao aeroporto.

--X--

O gemidos de Sarah eram semelhante ao ronronar felino. Baixos, mas carregados de um sentimento de entrega e de conforto. Sua pele muito branca agora toda marcada e arroxeada pela força dos dedos de ßønd, que a segurava firmemente em todas as posições que a desejava.

Ele a empurrou contra a parede de seu quarto, dominando-a e beijando-a sofregamente. Sarah suspirava um pouco a cada estocada mais forte, às vezes de êxtase, outras de dor por ser duramente invadida. Mas para Sarah ambas as sensações lhe eram prazerosas. Com esforço, entrelaçou suas pernas às costas dele e deixou-se levar pelo momento.

Não se preocupavam com vizinhos de quarto, ou transeuntes nos corredores. Importavam-se apenas em apagar o fogo iniciado desde o momento em que se encontraram, há poucos dias em Teerã.

Para isso, a música do mp3 player ligado a uma caixa de som fora posta em alto volume.

--X--

ØØ7 atendeu ao telefone público. Usou sua identificação-padrão e seu código de acesso ("Predador"). Depois de alguns segundos ainda não ouvira qualquer som quando uma voz modulada surgiu.

"Há um táxi esperando por vocês na saída. Em 30 minutos serão levados ao saguão do meu Hotel. Somente aqui, em segurança, poderemos discutir nosso plano de ação. Use seu código de acesso com o motorista."

ßønd repassou a mensagem para Bat-Seraph que apenas acenou com um menear de cabeça. Já esperavam este tipo de recepção, pois contatos internacionais sempre temem ser desmascarados e sua utilidade perdida. O que significava para eles, muitas vezes, a perda de uma considerável mesada em dinheiro vivo ou - em algumas situações - uma morte súbita e acidental.

Levavam cada um sua bagagem agora pouco se falando, ambos no piloto automático de sua profissão, e descendo o pátio do aeroporto notaram a movimentação sutil de um homem uniformizado. Ele se aproximou, assim como vários outros que ofereciam seus serviços, mas ao contrário dos demais gritou : "Você tem um fósforo ?".

ßønd sorriu e respondeu : "Eu prefiro um isqueiro." - e puxou seu antigo Dupont, presente de seu velho amigo Felix Leiter.

"É ainda melhor !" - falou o homem.

"Até eles falharem" - sentenciou ØØ7.

Era o código para reconhecerem um ao outro. Bat-Seraph estava muito séria e ele sabia que suas mãos macias estariam de encontro à uma arma certamente e vasculhando possíveis saídas do ambiente. Agora com o reconhecimento feito, a tranqüilidade voltara ao seu rosto quando ßønd abriu a porta para que ela se acomodasse no banco de trás.

Ele sabia como sua mente trabalhava, afinal, espionaram-se durante algum tempo, há bons tempos atrás, num outro lugar.

--X--

Jåµë§ segurava a mão de Sarah e a levava por todos os recantos de Teerã,tentando impressiona-la com seu conhecimento ímpar de alguns bons lugares na cidade que guardava pequenas surpresas para os turistas.

Jåµë§ não sabia o quanto podia postergar estes bons momentos. Deveria escolher a hora de finalmente serem honestos sobre os motivos de estarem ali. Não era para ser assim, mas ele não resistira aproximação quando a vira pela primeira vez, em fotos, no escritório de M. Claro que ela também já saberia, pois segundo seu relatório uma pessoa com seu nível de comprometimento - ainda que judia - possuiria muitos amigos. Até mesmo no Irã recém livre de Khomeini.

Então, ela também aceitara o logro.

Possivelmente, estiveram até então brincando um com outro e tentando arrancar informações sorrateiramente, numa disputa inaudita onde o prêmio seria levar a maior quantidade de informações para casa. Infelizmente, este tipo de aproximação não seria bem vista por nenhuma de suas agências.

Logo após o jantar, decidira acabar com a deliciosa encenação. Ficara em silêncio durante quase todo o encontro, apenas aproveitando a visão de seus olhos azuis refletindo a iluminação. Quando ela recusou a sobremesa, deixou alguns dólares americanos sobre a mesa e a levou para passear pelas ruas próximas.

"Então é aqui que nos despedimos" - ela disse quando parou muito repentinamente.

"Sim. Mas nos encontremos num outro lugar, em outros tempos." - ele respondeu, ciente do que ela realmente queria dizer e certo do que viria a ser discutido após.

"Na verdade, ØØ7, será pela manhã" - e se afastou.

A surpresa não veio pela comprovação de que ela sempre soube sua identidade, ou pela afirmação incisiva. Foi seu tom de voz que se alterou completamente como uma atriz que deixou de simular um sotaque ou um andar diferente. Quando a seringa penetrou seu pescoço e uma poderosa mão encobriu sua boca, percebeu que a hesitação em reagir a isto lhe custara caro. Muito caro.

--X--

"Porque você está aqui, Sarah ?" - ßønd perguntou rispidamente, dentro do táxi que os levava do aeroporto de Guarulhos para a zona sul da cidade de São Paulo.

"Pensei que fosse para salvar o mundo, como de hábito." - ela respondeu de uma forma que aos ouvidos dele nem mesmo pareceu uma ironia. O que era sua profissão que não uma maneira de tornar os seus mundos mais seguros?

"Por que especificamente você ?"

"Acho que nossos empregadores consideraram nosso passado em comum útil, uma vez que estudamos bem o perfil um do outro. Sabemos quem somos e o que antecipar."

"Ah, hoje eu realmente sei o que esperar de você. Tenho as marcas para provar." - ele brincou, falsamente não demonstrando o rancor.

"Eu gosto de ser inesquecível na vida de alguém."

Ele olhou para suas pernas educadamente cruzadas e ela percebeu escondendo uma pequena cicatriz na sua patela. Pareceu antever o que ele diria.

"Eu também sei fazer isso, como você pode lembrar. Seu joelho dói em noites frias ?"

Ela sorriu um tanto sem graça.

O táxi finalmente chegou ao local combinado quando ele saiu, deu a volta sutilmente pela traseira e abriu a porta para que ela saísse. Estendeu sua mão em cortesia no que ela aceitou. O motorista se retirou sem pedir pagamento ou gorgeta. Antes de cruzar a porta de entrada do elegante estabelecimento, ela segurou pela gravata impedindo que ele avançasse e disse.

"Espero que não tenha esquecido o sabor disso." - e o beijou na boca por muito tempo. Ele gostaria de resistir mas a este tipo de tortura era incrivelmente vulnerável.

--X--

A figura de boina clicava quase que aleatóriamente a paisagem. Esperava a chegada de um táxi que, quando finalmente chegou, desembarcou um casal que pareceriam uma comissária de bordo e seu acompanhante. Um inglês e uma israelense, segundo informaram.

Ao aproximar o zoom da poderosa câmera, de longe ela pareceu reconhecer um dos alvos. Guardou a câmera depois de registrar um súbito beijo e assistir o pretenso casal atravessar o hall do Golden Tulip Hotel.

"Que mundo pequeno..." - pensou enquanto telefonava de seu celular para seu líder - " ... realmente pequeno."

Fim do Capítulo 6

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