sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Contos de Espionagem



Capítulo 9 - A Dois Passos do Paraíso

A bala acertou o alvo a 10 metros de distância.
Onde antes existia um órgão vital agora provavelmente exibia-se apenas uma nefasta mancha vermelha escapando sangue e outros fluidos indefiníveis. O homem ajoelhou-se no chão sem forças para segurar nem mesmo sua própria arma. O segundo disparo terminou o serviço, explodindo o pescoço e quase separando sua cabeça do corpo, o qual tombou definitivamente.

"2 balas, restam 12" - o pensamento ocorreu a ØØ7 assim que pôde se levantar e mirar nas pessoas cujo único propósito era garantir que nem ele e nem Sarah Bat-Seraph saíssem com vida dali.

Abaixou-se a tempo de ver que as rajadas de fuzil de assalto, provavelmente M4A1, em retaliação. Seu instinto estava correto. O crime organizado não arriscaria uma ação ofensiva na área nobre de São Paulo a não ser que fosse muito bem recompensado e com alguma garantia de saírem ilesos. Estes atacantes não eram locais, ßønd estava quase certo que eram mercenários internacionais.

Melhor para ele, suas chances melhorariam.

Percebeu que a garçonete que lhe servira o martini ainda estava agachada buscando proteção atrás de uma mesa próxima à entrada da cozinha. Fez um silencioso sinal militar para Bat-Seraph indicando o caminho e que a cobriria enquanto isso. Bat-Seraph apertou o gatilho algumas vezes e correu em direção à cozinha, empurrando a garçonete no caminho para tirá-la do torpor. ßønd disparou mais algumas vezes na direção dos oponentes, protegendo-as.

Respirou fundo e se retesou preparando-se para pegar impulso. De repente, mudou de idéia e rolou para o lado onde estava o corpo de Schuved. Vasculhou seus bolsos, encontrando sua carteira e suas chaves. Agora sim ele poderia se arriscar a partir. Levantou-se de primeira e correu sem olhar para mais nada a não ser a porta salvadora. Pedaços de plástico e vidro voavam atrás dele e na frente e o som da descarga dos fuzis era agora incessante.

Atravessando o portal da cozinha, Bat-Seraph o esperava em uma das saídas verificando a segurança. Ela foi em frente, enquanto ØØ7 avistou um objeto na pia e o guardou no paletó e só depois a seguiu. A garçonete - que se sentira mais segura agora - mostrou a ambos a saída, abriu a porta e fugiu o mais rápido possível do local. Não havia problemas em deixá-la só agora. Não era exatamente ela que os inimigos queriam.

Sarah sinalizou que iria atravessar a rua e ßønd indicou a direção em que o Aston Martin estava estacionado. Com alguma sorte, eliminariam a maior parte do comboio, permitindo sua fuga com mais facilidade.

Isto não poderia se alongar, a experiência de ßønd no país dizia a ele que logo a polícia chegaria atirando primeiro e perguntando depois o que ocasionaria baixas terríveis para o lado da lei, algo que ele não poderia permitir pois comprometeria toda a investigação.

Atravessaram a rua com armas em punho e olhos atentos. Não demorou para que dois atacantes surgissem pela porta do restaurante mirando e atirando e Sarah jogou-se no chão procurando dificultar o trabalho dos assassinos. ßønd procurou abrigo atrás de um enorme utilitário estacionado do outro lado da rua. Precisava melhorar as chances de Bat-Seraph, que rolava agora para mais perto dele.

A primeira rajada dos fuzis atravessou as janelas do automóvel, causando pânico nos motoristas que cruzavam a pista até então despreocupados. Ele se abaixou e por debaixo do veículo conseguia ver Sarah atirando de volta com seu corpo jogado ao chão. O segundo atirador levantou um walk-talkie para informar sua posição e dando a ØØ7 os segundos que ele precisava. Esticou os braços por entre as janelas estilhaçadas, perdendo um segundo para mirar. Fez um disparo. Dois. Três.

O walk-talkie do segundo atacante foi o primeiro a atingir o solo, seguido do seu dono, pois o segundo e terceiro disparo perfuraram seu peito matando-o. ßønd olhou para Sarah, que se protegera debaixo do chassi do enorme utilitário e atirou também. Nenhuma de suas balas acertaram o alvo mas forçaram seu oponente a se esconder atrás de um veículo, na calçada oposta vendo que estava em desvantagem numérica. ßønd e Sarah sabiam que seu próximo passo seria informar os outros onde estavam.

Não que fosse necessário.
Após este pequeno combate todos sabiam o que acontecia naquele pedaço do quarteirão. Ainda teriam que atravessar uma pista movimentada e chegar até o Aston Martin. Sarah saiu pelo outro lado do veículo e postou-se ao lado de ßønd.

"E agora ?" - ela perguntou.

"Agora não depende de nós." - ele respondeu.

"No três, então ?" - perguntou. Ele disse que sim.

" 1, 2,..." - o terceiro número foi contado mentalmente e então levantaram-se correndo como nunca antes. Sarah foi na frente com sua Sig Sauer P229 sendo apontada ameaçadoramente para todos os lados por onde eles talvez aparecessem. ßønd foi cobrindo a retaguarda e estranhamente nada avistava.

Atravessaram as duas pistas da avenida, alcançando o carro. Bat-Seraph foi avisada das particularidades do DB9 e não o tocou ainda. ßønd levou a mão ao bolso, trazendo o controle remoto do segredo e desativando-o quando ouviu, saindo de lugar algum, uma voz fria e calma :

"Por favor, não se mexam."

ßønd não ousou se mover e Sarah apenas voltou-se para localizar o dono da voz.

"Larguem as armas e deixem as mãos em lugar seguro. Ou pelo menos, seguro para mim."

ßønd deixou a ASP cair, junto com a Sig Sauer de Bat-Seraph logo em seguida. Depois voltou-se com as mãos na cabeça para visualizar o inimigo. O homem de voz fria não era muito alto mas possuía uma aparência de brutalidade que superava qualquer outra desvantagem física. Aparentava ser latino, uma vantagem neste local, ao contrário da aparência bretã de ØØ7. O homem recolheu as armas e continuou.

"Agora entrem no carro, na frente. Eu irei atrás. Minhas ordens são para levar ambos com vida, mas não necessariamente inteiros. Então, qualquer imprevisto serei obrigado a destroçar seus joelhos ou qualquer ponto não vital."

Sarah tentou esboçar uma reação verbal mas ßønd a deteve.

"Não se preocupe. Vai ser um choque quando nosso anfitrião descobrir do que somos capazes." - disse baixinho.

Então obedeceram inicialmente.
ßønd sentou-se ao banco do motorista, e Sarah ao seu lado o encarou como se perguntasse qual o seu plano. Quando o homem de voz fria encostou na porta preparando-se para entrar, ßønd apertou um botão no controle remoto.

A descarga elétrica do sistema de segurança não era mortal, apenas o suficiente para impactar um inimigo e deixa-lo tonto por alguns segundos, como um taser. O homem de voz fria cambaleou para trás, soltando a arma que estava em suas mãos e Sarah saiu do carro, avançando para ele.

Apesar de Sarah ser bem treinada, o homem de voz fria recuperou-se parcialmente do golpe e a agarrou já pronto para puxar as armas recolhidas. ßønd saiu pelo seu lado da porta mas não entrou na disputa. Apenas chamou por Sarah, que quando o viu entendeu o que ia ser feito.

Quando o homem de voz fria conseguiu desvencilhar uma das mãos e alcançou a Sig Sauer de Sarah, ßønd puxou de seu paletó uma faca de cozinha que roubara do restaurante, jogou para Sarah, que a agarrou no ar e cravou com toda força na têmpora do homem de voz fria.

Ele finalmente caiu morto.

Não havia tempo para respirar. ßønd gritou para que Bat-Seraph entrasse no carro e pulou para a direção. Manobrou e saiu do local o mais rápido possível. As sirenes de polícia podiam ser ouvidas já próximas e não deveriam estar ali quando elas chegassem. Entrou por uma paralela à avenida e resolveu ir pelas ruas de dentro, menores, acelerando uma velocidade segura e ultrapassando poucos carros e finalmente parando embaixo debaixo de uma árvore de folhas grossas, usando sua sombra como proteção.

"Eles sabem onde estamos hospedados, qual o próximo passo ?" - Sarah questionou com amabilidade.

" Você me diz. Sou capaz de apostar de que sabe o nosso novo endereço. " - e mostrou as chaves que retirou das roupas de Schuved.

Ela emudeceu, uma vez que não queria amaldiçoar o homem que acabara de salvar sua vida.

Fim do capítulo 9.

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